quinta-feira, abril 27, 2006

O porquê

Contando e Caminhando era para ser Caminhando e Contando, uma alusão à Caminhando e cantando e seguindo a canção/ Somos todos amigos/ Somos todos irmãos...
Não contei nada, por enquanto. Vou contar.

Há quem me diga que eu sou uma contadora histórias, de casos. Antes de me falarem, eu já contava. É uma necessidade minha, talvez universal, maior em algumas pessoas do que em outras. Já li que, para medir a sanidade de um homem, é preciso saber se ele tem história . Já conheci quem não tivesse, ou não soubesse sua história. E quem tivesse muitas, mas não contasse por motivos vários.
Acho que todos têm histórias, maiores ou simples, engraçadas ou dramáticas. O que difere as pessoas é a vontade de contar-se ou não. E o que contam.
Eu tenho muitas histórias. Talvez mais do que algumas pessoas porque tenho uma memória não-seletiva de mim mesma, tudo o que acontece fica escrito em mim com tinta permanente. E é para isso que a minha memória funciona, para as minhas histórias. Lembro-me bem da minha infância, do que não me lembro ter vivido, perguntei e pergunto a outros para que eu saiba por onde trilhei. Não sei quando comecei a ser assim ou quando tomei consciência disso. Quero minha história, meu passado.
Há lembranças inventadas. Alguém disse que realidade é a forma se vê alguma coisa. Então eu lembro de um acontecido do meu jeito, com meu tempero. E saio contando por aí. Pode ser que outros lembrem diferente. Eu lembro exatamente como conto, ou conto exatamente como vai se encaixar em um momento.
Mentiras? As histórias são minhas, faço o que quiser com elas. Posso inventar meu passado? Não sei, geralmente penso contar o que realmente vivi, com as impressões guardadas em mim. Um professor meu dizia que a mentira é bem mais divertida. Um dia, ele contava um caso que havia se passado com ele e outro cara quando, interrompendo sua fala, o dito cara chegou e disse que aquilo era mentira, que, na verdade, o caso era assim e assado. A frustração nos ouvintes foi certa. Eu penso que cada um contou sua versão, como sentiu, como quis que fosse. Nenhum mentiu.
Exageros? Quantas vezes sim. A estudiosa das minhas contações, Licia Olivieri, definiu assim: zoom pessoal. Quando conto, ponho as lentes próprias, aproximo mais do detalhe que quero, que se relaciona com o ensejo. A tristeza sem causa pode se tornar uma depressão familiar, se o que eu preciso enfatizar é isso. E isso todos fazem ao contar, mas preferem dizer que são imparciais, exatos. Eu exagero mesmo, assumidamente. E fica cômico. E eu gosto. E quem ouve também.

Por que eu gosto de contar histórias – principalmente as que vivi? Por que, tantas vezes, exponho minhas fraquezas e vergonhas, contando? Além de viver uma situação frustrante, ainda tenho que compartilhá-la com outros, fazendo-a engraçada, dramática, sendo enfática. Sou assim. Talvez a teórica já mencionada, Olivieri, encontre uma resposta. Ou mesmo outros que insistem em me analisar. Quero saber o porquê.

quinta-feira, abril 20, 2006

Impossível!!!

Disseram-me hoje, assim, ao ver-me triste:
“Parece Sexta-Feira da Paixão.
Sempre a cismar, cismar, d’olhos no chão,
Sempre a pensar na dor que não existe...

O que é que tem?! Tão nova e sempre triste!
Faça por ‘star contente! Pois então?!...”
Quando se sofre o que se diz é vão...
Meu coração, tudo, calado ouviste...

Os meus males ninguém mos adivinha...
A minha dor não fala, anda sozinha...
Disseste ela o que sente! Ai quem me dera!...

Os males d’Anto toda gente os sabe!
Os meus...ninguém...A minha dor não cabe
Nos cem milhões de versos que eu fizera!...
(Impossível, de Florbela Espanca)

O que eu poderia dizer desse poema? Lá estava eu, ontem, pensando nos meus dilemas, quando resolvi pegar o livro A Mensageira das Violetas, da Florbela. Abri aleatoriamente e caiu em Impossível. Simplesmente me senti traduzida.
E a poesia não me toca tanto assim, não é sempre que estou tão ligada aos versos. Mas eles têm me chamado, e me mantido por perto.
Faço-me a mesma pergunta que Kawachi e tantos outros, por certo, será que só escrevo quando algo me aflige? Não entrando no mérito da questão do quê escrevo ou a qualidade disso.

quarta-feira, abril 19, 2006

O dia de hoje

Hoje me disseram que eu já não sou mais quem já fui, porque não confio mais no meu taco, não sou mais a menina otimista de outrora. Por quê?

Não sou mais menina mesmo, cresci! E mais, não estou mais na estufa de carinho e proteção dos meus pais: moro numa república a mais de 3 mil kilometros de casa e tenho que resolver os problemas que me aparecem!

Estou na faculdade, será que conta? Na verdade, numa puta de uma universidade que me fez sair da minha cidade, casa, igreja, de perto da minha família pra poder viver tudo isso com intensidade. É claro que quando eu saí de casa não pensava exatamente assim: eu queria estudar numa universidade pública do estado de São Paulo porque era meu sonho de infância. Acho que começou porque eu gostava das viagens que fazia para cá quando era criança.

Não estou mais em casa. Não tenho meus pais para resolver ou compartilhar meus problemas.
Não tenho mais a igreja que tinha.
Não tenho dinheiro, não tenho emprego - apesar de tentar tê-lo - e isso me deprime às vezes.
Não vejo mais o mundo com as lentes da Teologia da Prosperidade ou da Libertação, tampouco do Neoliberalismo evangélico.
Não convivo com pessoas perfeitas ou aperfeiçoadas, ainda bem que as pessoas com quem tenho convivido se assumem mais - pelo menos se comparadas às que eu convivia antes.

Realmente, esse é um pouco do que já mudou na minha vida. Será que ainda daria para eu ser animadíssima sempre como eu era, otimista com relação ao mundo e ao que eu poderia realizar nele? Será que eu tenho como acreditar ainda que, eu vou "vencer" porque eu luto e sou especial para Deus?
Eu, centro de tudo? Eu, eu , eu?

Estou séria, não sem rir. Mas eu rio de mim. Satirizo-me nós todos.

Não sou pessimista. De forma alguma! Eu ainda mantenho um idealismo de mudar tudo com que me envolver para melhor - pretenciosa, eu!? Que seja uma pequena mudança. Para mim, uma pessoa é um mundo. Ajudei uma, ajudei o mundo. Aprendi com uma, aprendi com o mundo.

Agora não me diga que "é só fazer sua parte que tudo dá certo". Não dá.

terça-feira, abril 18, 2006

Mais um poema

Sinceramente, meu forte não são os poemas. Tampouco escrever. Minha arte é (con)viver. Mas, ainda assim, insisto em escrever de vez em quando. Não sou poeta ou artista, sou uma simples garota brincando com as palavras.

Ontem me deu vontade de escrever e eu obedeci. Aí está o resultado.


Ei, mocinha
Ele só toca esse samba
Pra ver quem canta
Mas já não distingue
voz
timbre
ritmo
harmonia
compasso
ou a sua melodia.