terça-feira, junho 13, 2006

O Rabo da Lagartixa



“A quebra do rabo da lagartixa só acontece porque elas, por natureza, têm a cauda apta a se quebrar. É assim: em alguns dos ossos que formam a cauda da lagartixa existe um ponto onde pode ocorrer um tipo de fratura, permitindo que, caso ela faça uma força naquele ponto, o rabo se parta ali e se solta. Então é a lagartixa que controla em que ponto a cauda se quebra e em que momento ela quer partir a cauda. É um tipo de estratégia de defesa para se salvar quando está em perigo”.
(http://cienciahoje.uol.com.br/3978)

Pessoas e lagartixas, uma comparação que dá para fazer. Mas é um exagero comparar todas as pessoas com lagartixas se, de fato, quero falar só de mim. E, é claro, sinto-me única e exclusiva, além de iludir-me com a noção de inédito – minha vida é inédita, ora bolas. Incomoda pensar em bilhões de seres humanos e que, em todos nós, há tanto “igual”. E, simultaneamente, saber isso é “aliviante”.

Pois bem, o que eu tenho em comum com uma lagartixa?

Por esses tempos passei por uma situação complicada. Problemas sentimentais tomam tanto espaço na minha vida que tudo o mais que aconteça paralelamente torna-se de fácil resolução. Enquanto pensava em curar minha dor, tive que começar a trabalhar, preparar um seminário de literatura para a professora mais “carrasca”(segundo o senso comum), enfim, minha vida estava em curva de pista de Fórmula 1. Momento merecedor de muita atenção e dedicação, qualquer deslize poderia me prejudicar em demasia: perder a chance de trabalho ou tirar uma nota péssima e ter que fazê-la novamente no próximo semestre.

Mas, com a dor que eu estava, com o peso que carregava, nada disso parecia relevante. Não que fosse sem importância, de forma alguma, porém, ao invés de enfrentar minhas ocupações como grandes desafios que eram, cheia de apreensões, como estava voltada para meu coração, nem percebi que subi uma montanha altíssima! E, ao contrário do que parecia, o peso nem estava tão pesado. Aliás, cadê o peso?

É justamente então que me vejo como uma lagartixa. Esta, quando está em perigo, para se defender, solta um pedaço de sua calda. Ela faz força e controla exatamente o pedaço que vai quebrar. Apesar de estar deixando ali um pedaço seu, a lagartixa sobrevive (se o predador não comê-la, claro) e recupera-se, pois, ali, no mesmo lugar, cresce outro rabo. Eu senti dor. Perdi uma parte de mim, com certeza – aquela parte já não era mais minha, eu já tinha dado, de uma forma que seria um “nosso” e me seria acréscimo, já não dava mais para ser um “meu”. No entanto, o que eu “soltei”, foi decisão.

Eu somente pude “soltar” minha “cauda” porque tenho tal aptidão, como as lagartixas. Não é bem algo que se faça por querer. Nunca vi lagartixas passeando alegremente pelas paredes e soltando suas caudas ao seu bel prazer. Tampouco conversei com alguma lagartixa que dissesse:

- Ah, hoje estou super a fim de soltar um rabo por aí. E você?

Não. Eu não queria. Mas havia perigo. Soltei.

E, como as lagartixas saem andando normalmente, na medida do possível, e continuam suas vidas, assim sou eu, assim fui eu. Deixei, ficou, passou. Já estou andando e seguindo e contando e cantando e amando e sonhando. Eu sou assim. Como uma lagartixa.

Parte e todo

Seres humanos são tão iguais e tão diferentes...
Tão singulares e tão universais...

Essa música dos Engenheiros do Havaii é assim, particular e total!


Eu que não te amo

Eu que não fumo queria um cigarro
Eu que não amo você
Envelheci dez anos ou mais nesse último mês
Eu que não bebo pedi um conhaque
Pra enfrentar o inverno
Que entra pela porta que você deixou aberta ao sair

Senti saudade
Vontade de voltar
Fazer a coisa certa: aqui é meu lugar
Mas sabe como é
Difícil encontrar
A palavra certa
A hora certa de voltar
A porta aberta
A hora certa de chegar

O certo é que eu dancei
Sem querer dançar
E agora já nem sei
Qual é o meu lugar
Dia e noite sem parar
Eu procurei sem encontrar
A palavra certa a hora certa de voltar
A porta aberta
A hora certa de chegar