quinta-feira, dezembro 28, 2006

o Artista, o Poeta... (palavras emprestadas)

"Poeta é um ente que lambe as palavras e depois se alucina".

"Seu França não presta pra nada -
Só pra tocar violão.
De beber água no chapéu as formigas já sabem quem ele é.
Não presta pra nada.
Mesmo que dizer:
- Povo que gosta de resto de sopa é mosca.
Disse que precisa de não ser ninguém toda vida.
De ser o nada desenvolvido.
E disse que o artista tem origem nesse ato suicida".

Manoel de Barros (de O guardador de águas, Ed. Civilização Brasileira)

sexta-feira, dezembro 22, 2006

Tanto Tanto Tanto

Por que não sou tantas, como precisaria?
Cozinha
Biblioteca
Cama
Lavanderia
Sala de estar
Sala de jantar...

Dói-me a fronte
Doem-me as costas
Sou tão jovem...
Imagine!

Por que não sou tantas?
Por que não sou forte?
Pros amigos
Pras festas
Pras tarefas
Pras leituras
Pra ficar à toa sem pesar.

Esqueço de tudo
Esqueço o antes e até o agora
Minha agenda é a minha memória

Confusão!

Poucas as horas.
Tantos os fazeres.

E eu não sou tantas.
E eu sou só essa.

quarta-feira, outubro 11, 2006

Macarronada à Berinjela e Calabresa




Ingredientes

200gr de macarrão
1 berinjela grande picada
1 lingüiça calabresa média picada
½ cebola picada
½ tomate picado
1 colher de sopa de margarina

Como fazer

Cozinhe o macarrão.
Refogue a berinjela, e, depois de um tempo na água (meio copo), junte a lingüiça. Quando a lingüiça estiver quase pronta, acrescente a cebola e, no final, o tomate.
Coloque a colher de sopa de margarina, depois que derreter, junte o macarrão e misture.
Está pronto! Rende para duas pessoas não muito desesperadas...



Como comer

Almoce ou jante em frente à televisão ou à tela do computador, assistindo “O fabuloso destino de Amelie Poulain”. Fabuloso...

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Não é uma receita,não é uma fórmula, mas, em tudo o que faço, vejo e sinto a poesia. É a vida! Não é que eu não vejo o mal, a dor, a miséria, mas as vejo como um motivo para que haja flores e música. O que há de tanto em um macarrão, afinal? Não há! O que há, se houver, está em quem come, em quem vê, em quem sente...

sexta-feira, setembro 08, 2006

Aquele arco-íris


Foto by Gray Boy


Um dia,
Meu abraço era de todas as cores...
Mas ele,
De cores não tinha nada!
E só me deu aquele olhar acinzentado

De adeus.

Adeus...

quarta-feira, agosto 30, 2006

Infalável, mas poetado


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Já preciso do lápis para respirar!

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Perco-me por aí
Rio

Mas qual é a graça?
Cadê a graça?
Que graça é essa, meu Deus!

Perdão, eu
Não sei
Simplesmente sinto, às vezes
Muito

Desejo
Duvido
Questiono

Amo.

(E...o quanto sou festa! - que graça é essa?)

sábado, agosto 19, 2006

VIAGENS NA MINHA TERRA III

O primeiro dia

Cheguei em casa. Dormi. Quatro horas da manhã. Oito horas da manhã meu sono é carinhosamente interrompido:

- Dani...filhinha! Dani...vamos tomar café? O papai comprou um monte de coisa gostosa na feira.
As velhas estratégias para me tirar da cama. “Vem comer que está na mesa”. Mamãe sabe que a isso eu não resisto mesmo. Mas fazia apenas quatro horas que eu dormia depois de uma viagem cansativa. Pra que me acordar às oito da manhã? Eu estava de férias! Só abri um olho e resmunguei:

- Mas, mãe...eu tô morta... Tô tão cansada que não tenho forças nem pra mastigar...
- Vamos, filha. Ânimo. Tem palestra pros adolescentes.
Arregalei os olhos de uma vez. Que susto! Por um instante pensei que tinha voltado no tempo, como nos filmes.

- Quê?!
- Papai quer que vocês vão – no caso era eu e meus irmãos, com as idades de 16 e 18.
- Mãe! Tá me chamando às oito pra assistir palestra no primeiro dia das minhas férias? Palestra pra adolescentes! Quantos anos eu tenho?

Daquele ângulo, eu deitada no colchão no chão e minha mãe se abaixando pra me convencer a despertar para minha adolescência adormecida, eu achei a cena engraçada. Digna de ser descrita. E lida. Você faz bem leitor. Faz um bem a mim. Eu realmente precisava desabafar.
Quando eu sai de casa para estudar, eu tinha 17 anos. Da ultima vez que eu fui pra casa completei 19. Mas já fazia um ano e meio. Estou com 20. Meus pais estão com meus 17. Eles ainda não se deram conta dos meus aniversários anuais. Será?
Eu fui à palestra. Meu irmão também. O caçula foi mais esperto: foi para o treino de basquete – e acrescentou um côvado à sua vida.
Eu já assisti muitas palestras. Boas e ruins. A igreja que eu freqüentava era muito preocupada com o ensino. E nas várias escolas que estudei também ouvi muitas palestras. E na faculdade também – aliás, por ser a comemoração dos 10 anos do curso de Letras eu confesso que esperava algo de nível superior, e não aquela puxação de saco acadêmica de 40 minutos antecedendo uma golfada de termos sem sentido. E como conseguir descrever a pior palestra que eu já vi em toda a minha vida?
Apalpo as palavras errantemente como quando acaba a luz e procuramos um objeto no escuro, tropeçando no pé do armário e machucando o mindinho ou a unha encravada. As únicas palavras que encontro são essas, do tipo pé-de-mesa-que-machuca, apenas elas para dizerem o mal que aquela palestra me causou.
De início, confesso que ainda imaginei não estar gostando da palestra por causa do tema, afinal, eu não preciso mais aprender sobre a menarca! Era bondade minha, um restinho, como quando fazemos brigadeiro e fica uma rapinha na panela.
Depois de meia hora, a náusea crescente me fez perceber que o problema não era o tema.

No meio do caminho havia um palestrante
Um palestrante havia no meio do caminho
No meio do caminho...um palestrante
Um palestrante

No meio do caminho havia um palestrante.


O portão de onde acontecia a palestra estava trancado e algumas pessoas “responsáveis” vigiando para nenhum adolescente fugir. Realmente, com uma palestra daquela dava vontade de fugir mesmo. Da Terra. Sinceramente, uma programação feita especialmente para adolescentes tão caprichosamente que precisa de cadeados para mantê-los “participando”. Depois há quem não entenda o porquê de tanta alienação, por que motivo tantas pessoas mudam de uma igreja para outra – e até mesmo de religião – se foram tão bem ensinadas. Ensinadas a quê? A seguir, a imitar, a obedecer. E não a pensar em suas reais motivações para fazer isto ou aquilo.

Irritação nada literária.

Enfim, assisti a palestra. Odiei. Mas ri muito. E depois, também, meu pai assistiu uma parte da palestra. Acho que ele percebeu que, pelo menos, de puberdade eu já entendo um pouco. Ufa!

Os primeiros dias das férias foram mais intensos. Esta foi a manhã do primeiro dia: intensidade pura!

(Quase vejo um anônimo rindo.)

quinta-feira, agosto 03, 2006

VIAGENS NA MINHA TERRA II

Fiz uma viagem. Quero falar dela. Não sei para quantos posts terei paciência de fazer sobre o mesmo assunto, que é vários ao mesmo tempo. Vou começar do começo, mas posso não terminar no final. Mesmo porque ainda não acabou.

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A Ida

Viajei. Foi uma viagem curta. Não foi uma viagem cara. Não vi nenhuma pessoa famosa. Não visitei nenhum museu importante. Mas foi a viagem mais importante pra mim esse ano – até agora, pelo menos, vou lá saber se vou viajar mais e mais importante até dezembro? E preciso falar sobre isso. Escrever também, porque falar eu falo mais do que dois ouvidos podem suportar – e é por isso que preciso de tantos!
Quando eu fiquei sabendo que iria para casa, vibrei. Depois de um ano e meio sem ver meus pais, sem estar no doce meu lar, a notícia foi motivo para grandes comemorações. No fundo, eu sabia que iria. Na verdade, não tive uma notícia. Eu é que disse que iria de qualquer maneira, com emprego ou sem, com aulas ou não, por um fim de semana que fosse. E fui.
A passagem não existe mais. O papel, que me dava tanta segurança segurar até chegar ao aeroporto e depois entregar para o moço do avião. “Quanta simplicidade”, provavelmente pense alguém viajado ou que se ache tão diferente de mim. Alguém como quem me escreveu uma carta, da qual reproduzo um trecho:
(...)peço a Deus que te proteja, porque você é muito inocente. E, simultaneamente, peço que ele aumente essa inocência no mundo.
Hoje eu me pergunto que inocência é essa. Seria isso que me faz ter um certo medo de multidões sem nome e querer ter por perto alguém do meu convívio? É essa inocência que me faz ter a coragem de escrever isso e me expor a “anônimos”? Foi a ingenuidade sobre o que eu encontraria que me deu a disposição de deixar meu ninho para viver um sonho tão incerto? Por esse sonho, também, fiquei um ano e meio sem estar em casa.
Quando eu cheguei no aeroporto, peguei a fila para o check in com aquela cara de perdida. E não era a minha primeira viagem! Eu estava sozinha, e estar só é o que tanto me incomoda quando estou em lugares como aeroportos, rodoviárias, shopping centers, cinemas, metrôs e afins. Principalmente se o que vou fazer é algo tão importante e marcante como viajar. Mas haja companhia pra tudo isso!
Tudo deu certo, só com o meu nome eu viajei. Nem usei o código que meu pai me passou pelo telefone e eu anotei com muita concentração na minha agenda cor-de-rosa. Quanta praticidade pra viajar! E segui um raciocínio daqueles bem vovozinha impressionada com o mundo de hoje. E assim eu pensei até o momento em que eu deveria entrar no avião, mas não entrei, apenas ouvi:

- Senhores passageiros do vôo 1821 com destino a Brasília e conexões, devido aos problemas de localização, o vôo foi adiado para as 20 horas.

Como eu estava sozinha, apenas me remexi na cadeira em que estava sentada, não pude verbalizar meus sentimentos nada gentis. Olhei meu bilhete, eu estava com ele nas mãos, pronta para partir. Eu sairia às 18h50min, por isso eu havia chegado às 17h40min, aproximadamente. No avião eu durmo, pelo menos. Mas, no aeroporto, sozinha...fazer o quê? Ler? Eu estava lendo “O Vermelho e o Negro” de Stendhal. No entanto, só queria viajar, chegar logo. Depois do aviso sobre o atraso, mesmo a leitura até então encantadora se tornou canseira e enfado. Irritação...
Cansei de ouvir avisos de aviões chegando e saindo. Cansei de ouvir as traduções. Que inglês é aquele que se fala nos aeroportos? Francamente, será que um nativo da língua inglesa tem a capacidade pra entender aquele inglês? Pobres estrangeiros que dependerem daquilo para entender qual é o seu vôo! Confesso que até senti um certo orgulho do meu inglês depois de ouvir tantas “mastigações”. E o inglês mastigado é padrão, tanto no aeroporto de Congonhas, em São Paulo, como no aeroporto de Brasília e dentro dos aviões é aquilo que você escuta.
Para ajudar o tempo e a irritação passarem, resolvi fazer meu ritual sagrado: comer. Eu não estava com fome, e não podia comer muito também porque eu fico com enjôo só de pisar dentro do avião. E é claro que não estava a fim de fazer uso dos saquinhos para vômito – que antes ficavam atrás de cada poltrona, mas, com a crise das empresas aéreas, eu teria que pedir de algum comissário ou comissária.
Sai da cadeira em que eu estava sentada e segui para um balcão e pedi...Pouco importa o que eu comi! Mais relevante é o fato de que, depois que eu terminei de comer, procurei a passagem nos bolsos da calça, é obvio que eu tinha colocado ali, era o lugar mais prático. Nada. Olhei nos bolsos externos da mochila. Nada. Mas que droga! Onde eu enfiei essa passagem? Abri a carteira, ufa! Não! Era a passagem referente a Brasília – Porto Velho. Onde eu teria colocado?
Voltei à cadeira em que havia me sentado. Uma senhora do lado esquerdo estava lendo, a mesma desde o momento que eu tinha saído. Do outro lado, uma senhora não tão senhora assim estava com a filha. A minha cadeira vazia. Olhei no chão.

- Vocês, por acaso, viram uma passagem por aí?

As duas se entreolharam, olharam nas cadeiras ao lado, se abaixaram pra procurar no chão também e eu com aquela cara de desespero total. Nada de achar a bendita passagem.

- Brigada. Vou procurar nas minhas coisas de novo.
- Se já é esquecida desse jeito, imagine quando estiver da minha idade! – disse a senhora mais velha para a senhora mais nova e com cara de mais chata.

Sentei, respirei – porque já fazia uns 7 minutos que eu não inspirava ou expirava, eu só procurava – e vasculhei toda a sacola que eu carregava. Conferi novamente os bolsos externos da mochila, os bolsos da calça, quase virei minha carteira do avesso, olhei dentro do livro...dentro! Dentro da mochila! Não dava pra tirar tudo de dentro da mochila porque lá dentro estava simplesmente uma bagunça e porque não se abre mochila no meio da sala de embarque. No meio das bagunças, na parte interior-superior da mochila, lá estava ela! A minha passagem toda amassada.
Será que eu apaguei por alguns segundos e a coloquei lá dentro ou será que eu apaguei depois, tendo um esquecimento completo de onde tinha colocado a bendita? Não sei. Essa é uma incógnita que me rendeu um pavorzinho de viagem. E que pavor. Odeio esquecimentos, mas sempre os tenho. Se resolvesse contar episódios de esquecimento teria história para caminhar e contar por um tempo que só com um bom condicionamento físico daria para agüentar!
Quando cheguei em Brasília, tive que matar o tempo mais um tanto (e que tanto!) e esperar o avião para Porto Velho, que, por sua vez, também atrasou. Comi. Andei pelas lojas. Li vários capítulos do romance que carregava. No meio da leitura, uma vontade enorme de beber suco de laranja. Geralmente desejo coisas de comer, e não de beber. Tomei o tal suco de laranja com uma gana, parecia que eu nunca tinha experimentado!
Enfim, o avião. Quando entrei, fiquei espantada. O moço do check in fez questão de perguntar se eu queria janela ou corredor, e, quando eu entrei no avião a minha poltrona era uma bem do meio, onde fica a asa, por fora e, por dentro, não tinha janelas! Na verdade era uma parede lisa, super encantadora para quem tem um certo grau de claustrofobia. Não, não bastava estar dentro de um avião atrasado, sentindo enjôos... eu tinha que me sentar logo do lado de uma parede! Mas eu dormi. Senti câimbras, dor no pescoço, virei várias vezes: características do sono de avião. Pelo menos era uma velhinha do meu lado, e não um senhor com olhos grandes, como na minha ultima ida a Porto Velho de avião, há dois anos. O cara não parava de me olhar, e eu não conseguia pegar no sono de preocupação. Até que cochilei e, quando acordei, vi meu vestido aberto. Era um vestido com botões na frente, de cima a baixo. Onde o botão abriu: na altura do pescoço, no peito, na barriga, no meio das pernas ou no joelho? No meio das minhas pernas! Quando acordei, lá estava o vestido escancarado! Agora deu até vontade de abraçar aquela velhinha. E de queimar aquele vestido...
Cheguei em Porto Velho. Desci do avião quase pulando, correndo. Como uma criança ao sair da escola para dar um abraço no pai que a espera no portão. Ao chegar onde os passageiros retiram a bagagem, olhei adiante, na grande porta de vidro onde os amigos e familiares esperam dando os tchauzinhos mais piegas afinal, há quanto tempo não via um aceno daqueles, o rostinho dos meus pais emocionados e orgulhosos da filha? Não vi minha mãe. Não vi a carequinha inigualável do meu pai. Não vi sequer meu irmão, cabeçudo.

- Será que eu vou ter que ligar em casa pra pedir que alguém me busque? Será que eu vou de táxi? – Falei pra mim mesma.

Quando sai com as malas, meus pais estavam lá. E meu irmão cabeçudo também. E meu primo chicletinho também. Esqueci dos esquecimentos, dos atrasos, dos enjôos, da crise de claustrofobia, do inglês de açougue...só lembrei que aquele era um momento muito importante: o início das minhas férias, com núcleo-família incluso. E otras cositas mas!

sexta-feira, julho 21, 2006

VIAGENS NA MINHA TERRA


Em Família
Estou em Porto Velho. Há muita poesia por aqui, ou em mim . Não sei. Além do calor, é claro. Mas não vou poetar.

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No sítio, olhando as mulheres lavando a louça:

- Olha, mãe, como as panelas ficam brilhando!
- Também, não têm mais nada pra fazer! O que é que se faz nesse fim de mundo?

.......................

Eu estava deitada pensando na vida.

- Filha, por um acaso você não está pensando em alguém, está?
- Eu?! Se estiver, é só porque hoje fiquei muito tempo sozinha, nada mais do que isso.
- Você tem é que curtir a vida, menina. Levanta daí e vai sair, anda!

Depois não me culpem, minha mãe que mandou!

quarta-feira, julho 12, 2006

Poema e Música

Um poema escrito por mim, em um dia, em algum lugar, em uma situação dada.

Hoje meu amor me trouxe flores
Por tanto tempo as queria
E que delas falava...
O dia foi hoje
Inesperado
Ou o mais previsível de todos

Eu as queria na janela
Mas aqui já não existe uma
Sinto a escuridão me sufocando
Meus dedos esfriam
As flores
Que queria
Das quais falava.

Ouvi meu amor balbuciar arrependimentos
Parece que ele chorava.


....................................

Essa música tocou 354 vezes hoje.

Olhos pra te rever
Boca pra te provar
Noites pra te perder
Mapas pra te encontrar

Fotos pra te reter
Luas pra te esperar
Voz pra te convencer
Ruas pra te avistar

Calma pra te entender
Verbos pra te acionar
Luz pra te esclarecer
Sonhos pra te acordar

(...)
Contos pra te encantar

Silêncio pra te comover
Música pra te alcançar
Refrão pra te enternecer
E agora só falta você

Meus verbos sujeitos ao seu modo de me acionar
Meus verbos abertos pra você me conjugar
Quero, vou, fui, não vi, voltei,
Mas sei que um dia de novo eu irei


("Verbos Sujeitos", Zélia Duncan)
Escuta aí...

sexta-feira, julho 07, 2006

O olho que sorri



O moço disse assim:

- O olho dessa menina é pura sinestesia! Um exemplo que eu vou usar em uma aula sobre figuras de linguagem!

sexta-feira, junho 30, 2006

Personalidade de Chuveiro



A República Mixta - esquina (Foto originalmente do fotolog: www.fotolog.com/brunoiz)

O chuveiro da república em que moro é problemático. E não é uma questão individual, apenas. Há algo no coletivo chuveirístico nesta casa que os envolve numa aura de problematização.

Inquietação.

Que problemas seriam esses?
O que levaria um chuveiro a não se portar como deveria?

Quando cheguei a essa casa, vinda de um apartamento sufocante, cujo banheiro apertado ativava o botão de minha claustrofobia, o tamanho do banheiro era aliviante. Um dos motivos favoráveis à escolha desta casa e não outra.
O chuveiro esquentava demais. No inicio, aquela quentura agoniava, mas, com o tempo, fui acostumando – e todos da casa também, ou questão de inércia mesmo. O outro chuveiro, localizado na suíte da Srta. Olivieri, não esquentava o suficiente. Perceba o desequilíbrio na personalidade desses chuveiros, deslocados num mundo em que apenas têm que cumprir uma função sem nunca serem pensados.

Depois de muitos avisos de que aquela quentura em excesso desembocaria no fim da resistência do chuveiro, o pior aconteceu. Eu já previra que a fatalidade se daria no momento em que o frio chegasse. Tal qual pensei, sucedeu. O chuveiro pifou.

Após quatro dias, alguém tomou uma providência, comprando um chuveiro novo e chamando alguém competente para fazer a sua instalação. Um moço veio até a república e o fez, cobrando 5 reais. E ainda deu “uma olhada” no chuveiro da suíte, fazendo-o esquentar mais, não sei por que procedimento.

Não durou muito, apenas uma semana depois o chuveiro central parou de esquentar novamente.Sem muitos questionamentos, afinal, sou uma pessoa ocupada, passei a usar o chuveiro da suíte, afinal isso é uma república. Até que, alguns dias depois, o chuveiro 2 parou. Mas foi só uma questão de trocar a resistência, o que meu próprio irmão fez, que fácil.

Não durou. Alguns dias após o conserto, eu estava sozinha em casa. Resolvi tomar banho. Ao terminar, desliguei o chuveiro. Mas ele não parou de fazer o barulho que faz quando está ligado. E, do nada, deu uma jorrada de água. Que susto! Ele estava desligado, imagine a minha feição naquele momento apavorante.

Corri para o telefone.

- Srta Camargo? Meu chuveiro tá possesso! – e passei a narrar o que ocorria naquele exato momento com um chuveiro revoltado. Fui questionada da atuação de um eletricista aqui.
- Eletricista, encanador, mestre de obras...só falta eu chamar o pastor para vir aqui fazer uma oração! Isso já está no âmbito espiritual.
Durante toda essa conversa, que não durou mais que 5 minutos, o chuveiro desligado dava seu show. Após risos do outro lado da linha, recebi um conselho:
- Desligue a chave de força, mocinha!
Corri e o fiz.

O próximo que tomou banho lá teve o prazer de ter uma metade geladinha, pois o chuveiro esfriou.

O DIA EM QUE O CHUVEIRO 2 PAROU

E é incrível pensar na simbologia da data, porque eu tenho quase certeza que foi no dia 21 de junho. E que importa? Esse é o dia do início do inverno. (Somente pela minha formação discursiva que não profiro, ao invés destes parêntesis, despautérios lingüísticos equivalentes ao momento).

Frio...

(aguarde a segunda parte desta história, ela não terminou)

terça-feira, junho 13, 2006

O Rabo da Lagartixa



“A quebra do rabo da lagartixa só acontece porque elas, por natureza, têm a cauda apta a se quebrar. É assim: em alguns dos ossos que formam a cauda da lagartixa existe um ponto onde pode ocorrer um tipo de fratura, permitindo que, caso ela faça uma força naquele ponto, o rabo se parta ali e se solta. Então é a lagartixa que controla em que ponto a cauda se quebra e em que momento ela quer partir a cauda. É um tipo de estratégia de defesa para se salvar quando está em perigo”.
(http://cienciahoje.uol.com.br/3978)

Pessoas e lagartixas, uma comparação que dá para fazer. Mas é um exagero comparar todas as pessoas com lagartixas se, de fato, quero falar só de mim. E, é claro, sinto-me única e exclusiva, além de iludir-me com a noção de inédito – minha vida é inédita, ora bolas. Incomoda pensar em bilhões de seres humanos e que, em todos nós, há tanto “igual”. E, simultaneamente, saber isso é “aliviante”.

Pois bem, o que eu tenho em comum com uma lagartixa?

Por esses tempos passei por uma situação complicada. Problemas sentimentais tomam tanto espaço na minha vida que tudo o mais que aconteça paralelamente torna-se de fácil resolução. Enquanto pensava em curar minha dor, tive que começar a trabalhar, preparar um seminário de literatura para a professora mais “carrasca”(segundo o senso comum), enfim, minha vida estava em curva de pista de Fórmula 1. Momento merecedor de muita atenção e dedicação, qualquer deslize poderia me prejudicar em demasia: perder a chance de trabalho ou tirar uma nota péssima e ter que fazê-la novamente no próximo semestre.

Mas, com a dor que eu estava, com o peso que carregava, nada disso parecia relevante. Não que fosse sem importância, de forma alguma, porém, ao invés de enfrentar minhas ocupações como grandes desafios que eram, cheia de apreensões, como estava voltada para meu coração, nem percebi que subi uma montanha altíssima! E, ao contrário do que parecia, o peso nem estava tão pesado. Aliás, cadê o peso?

É justamente então que me vejo como uma lagartixa. Esta, quando está em perigo, para se defender, solta um pedaço de sua calda. Ela faz força e controla exatamente o pedaço que vai quebrar. Apesar de estar deixando ali um pedaço seu, a lagartixa sobrevive (se o predador não comê-la, claro) e recupera-se, pois, ali, no mesmo lugar, cresce outro rabo. Eu senti dor. Perdi uma parte de mim, com certeza – aquela parte já não era mais minha, eu já tinha dado, de uma forma que seria um “nosso” e me seria acréscimo, já não dava mais para ser um “meu”. No entanto, o que eu “soltei”, foi decisão.

Eu somente pude “soltar” minha “cauda” porque tenho tal aptidão, como as lagartixas. Não é bem algo que se faça por querer. Nunca vi lagartixas passeando alegremente pelas paredes e soltando suas caudas ao seu bel prazer. Tampouco conversei com alguma lagartixa que dissesse:

- Ah, hoje estou super a fim de soltar um rabo por aí. E você?

Não. Eu não queria. Mas havia perigo. Soltei.

E, como as lagartixas saem andando normalmente, na medida do possível, e continuam suas vidas, assim sou eu, assim fui eu. Deixei, ficou, passou. Já estou andando e seguindo e contando e cantando e amando e sonhando. Eu sou assim. Como uma lagartixa.

Parte e todo

Seres humanos são tão iguais e tão diferentes...
Tão singulares e tão universais...

Essa música dos Engenheiros do Havaii é assim, particular e total!


Eu que não te amo

Eu que não fumo queria um cigarro
Eu que não amo você
Envelheci dez anos ou mais nesse último mês
Eu que não bebo pedi um conhaque
Pra enfrentar o inverno
Que entra pela porta que você deixou aberta ao sair

Senti saudade
Vontade de voltar
Fazer a coisa certa: aqui é meu lugar
Mas sabe como é
Difícil encontrar
A palavra certa
A hora certa de voltar
A porta aberta
A hora certa de chegar

O certo é que eu dancei
Sem querer dançar
E agora já nem sei
Qual é o meu lugar
Dia e noite sem parar
Eu procurei sem encontrar
A palavra certa a hora certa de voltar
A porta aberta
A hora certa de chegar

sábado, junho 10, 2006

O amor e não a pieguice

Sou particularmente contra pieguices. Não faço questão de grandes definições do amor ou tratados psicológicos ou psicanalíticos, seja o que for.

Sou a favor de um amor que se viva. De uma “pieguice” vista no cotidiano, no abrir mão de algo por alguém, na renúncia do meu ótimo para que dois fiquem simplesmente bem.

Defendo um amor prático. Basta com palavras vazias de significação! Preenchamos nossas existências com sentidos provocados por gestos e atitudes que nos impressionem, surpreendam, signifiquem, simbolizem...numa troca mútua, numa mostra contínua da força que possibilita a plenitude (se é que alguma é possível) da existência humana.

Espero que, sinceramente, eu faça alguma diferença na vida das pessoas com quem convivo. Sei que isso é atrevimento, mas eu ouso pensar assim. Não me julgo grande ou mais especial, mas eu amo com tudo que sou – mesmo que eu não seja tanto assim.

segunda-feira, junho 05, 2006

O porquê de ler auto-ajuda

Domingo fui a uma livraria com alguns amigos. Logo que entramos, cada um se dirigiu para a ala de interesse. Eu, antes disso, fui perguntar, a pedido da Favoretto, se tinha uma biografia do Drummond disponível – Os sapatos de Orfeu. Depois de verificar que sim, a minha intenção era dar uma olhada nos livros de sempre: literatura infantil, teoria literária...

Quando me vi, estava numa estante só com livros de auto-ajuda, pior: achando interessante! Puxa, ali tem solução rápida pra tudo quanto é tipo de problema, soluções imediatas para ter idéias e aplicá-las no dia-a-dia, enfim, não sei porque o mundo ainda está como está se existem tantos livros, autores, soluções!

Fiquei lá, folheando...até que a Silva me viu e me levou para a sessão de crítica literária – onde ela diz que vai todos os dias e lê um trecho do livro que não tem dinheiro para comprar. Mas a questão da auto-ajuda não me saiu da mente. Eu, que sempre detestei livros de auto-ajuda, ou pelo menos, em geral, os vi como falares do que é óbvio ou do que as pessoas querem “ouvir”.

Ah! Mas quem tá na fossa que nem eu não tem nada melhor do que se auto-ajudar! Ao invés de gastar a maior grana em terapia (o que não seria possível porque a moça aqui é sobrevive, portanto não tem dinheiro para esses luxos), com 25 reais, em aproximadamente 100 páginas, você se resolve. Ao invés de horas a fio conversando, e dizendo quem você é para que o terapeuta saiba o que fazer, você já se conhece mesmo (então economiza até tempo), deita numa rede e lê, em uma tarde, o que fazer para se auto-ajudar. E, lendo, você já se sente uma nova pessoa, muito importante, capaz, forte, corajosa, sonhadora...

É por isso que resolvi defender os livros de auto-ajuda. Para quem tiver 25 reais é uma ótima idéia. Para mim, descobrir isso foi um começo. Como nem esse dinheiro eu tenho, minha forma de me auto-ajudar é escrevendo aqui. E talvez de ajudar quem esteja desesperado, lendo esse maravilhoso blog, e que só precisava de um empurrãozinho para descobrir as maravilhas do gênero auto-ajudativo.

Vômitos

"Mandei fazer de puro aço luminoso um punhal/ Para matar o meu amor e matei/ Às cinco horas na Avenida Central".
(não quero pôr autoria, o sentimento é meu agora)

Há quem se engane achando que procura INTIMIDADE, quando a questão é apenas VARIEDADE.

sexta-feira, junho 02, 2006

Risco de vida

Estudar tem se tornado arriscado, perigoso. Principalmente se você for aluno da UFSCar.

Se for a pé pras aulas, a rotatória da Rodovia Washington Lúis está em "reformas" (isto é, ao sair da universidade, a pessoa já estará na pista). Então, como estão arrumando, até chegar na Federal você tem que atravessar duas vezes a pista. Não! Uma vez, porque, na parte mais perigosa, colocaram uma passarela temporária com escadas em zigue-zague e um balanço que as torna não muito confiáveis.

Pode acreditar que aquilo é uma passarela. Depois de tantas polêmicas na comunidade da UFSCar: havia uma discussão entre os que achavam que era um trampolim para nadadores de "solo" e outros que julgavam ser a estrutura para pulos de "bang/bung jump"...

Logo, pra muito estudante, não existe passarela porque,além de ser insegura, você leva bem mais tempo passando por lá do que ficando embaixo, esperando os caminhões passarem correndo até vocÊ ter a chance de correr mais ainda e chegar ao outro lado da pista. E eu ainda tenho um agravante: medo de altura. Subi a passarela uma vez, sofri calafrios e não parei de pensar que aquilo ia despencar. O engraçado é que, bem na hora que eu estava lá em cima, passou uma caçamba. Imagine um ser caindo da passarela na "carroceria" de uma caçamba! Ai! Que medo da altura...(Bem, pelo menos eu não tenho medo de caminhão.)

Agora, voltando ao que parecia ser o "estilo" desse blog, vou refletir. Que bosta é essa que eu escrevi?

sexta-feira, maio 12, 2006

Sou a garota dos começos
Inicio com propriedade
entro
começo
Mas odeio terminar
ODEIO ou simplesmente não sei
Encerrar.
Sair.
Concluir.
Fechar.
Ir embora.
Dar tchau.
Isso eu ainda não aprendi:
FIM.
..................................
Meu aprendizado:
Fim e não

Não, sim.
Fim, não.

quarta-feira, maio 10, 2006

Mais do porquê

Cresci ouvindo histórias acontecidas no interior do Maranhão ou da Paraíba. Algumas não foram acontecidas lá, foram contadas lá para meu pai, que as transmitiu pra mim e meus irmãos. E quantas vezes foram contadas! Como eu poderia esquecer?

Sei as histórias que meu avô contava para meu pais e meus tios, que eram contos populares de onde vivia. No entanto, sei poucas histórias da vida de meu avô – porque ele morreu quando eu era pequena ainda. E da vida do meu pai sei pouco – porque ele não gosta de contar o que pode ser mau exemplo. Mas eu pergunto da minha avó, das minhas tias e assim resgato um pouco mais desse passado sem versão própria.
Gosto de sentar com a minha vó e ouvir o que ela me conta. Da última vez que conversamos assim, eu queria saber sobre o casamento dela com meu avô, porque ela já havia me dito que suas irmãs, assim como ela, não queriam casar. E ela fez revelações que, talvez, eu nunca ouvisse de algum tio ou mesmo do meu pai. Afinal, meu avô não viveu pensando em fazer uma história de bom exemplo. Ele traiu, mentiu, fingiu, ignorou, teimou, como também chorou, pediu perdão, sorriu, contou histórias, brincou, trabalhou.

Talvez isso seja algum porquê de querer me contar, de querer me dizer por aí. Já me disseram que eu me defino pelas minhas histórias, mais do que pelas minhas idéias. E eu acho que é verdade: eu me afirmo como eu contando.

Acho que não sou boa para contar histórias escrevendo. Prefiro interpretá-las contando com a minha voz, minha expressão corporal. Escrevê-las me faz bem, apesar disso. E há quem possa ler que não possa escutá-las. Tem gente que me impede de falar. Tem quem odeie me ouvir. Eu sei que conto demais, sou esparramada. Eu sei que muitas vezes ninguém me quer saber, e eu não sou vitima por isso, é normal de todos querer ouvir ou não. Além de quem não suporta me ouvir, vou acabar criando quem não me possa ler.

quinta-feira, abril 27, 2006

O porquê

Contando e Caminhando era para ser Caminhando e Contando, uma alusão à Caminhando e cantando e seguindo a canção/ Somos todos amigos/ Somos todos irmãos...
Não contei nada, por enquanto. Vou contar.

Há quem me diga que eu sou uma contadora histórias, de casos. Antes de me falarem, eu já contava. É uma necessidade minha, talvez universal, maior em algumas pessoas do que em outras. Já li que, para medir a sanidade de um homem, é preciso saber se ele tem história . Já conheci quem não tivesse, ou não soubesse sua história. E quem tivesse muitas, mas não contasse por motivos vários.
Acho que todos têm histórias, maiores ou simples, engraçadas ou dramáticas. O que difere as pessoas é a vontade de contar-se ou não. E o que contam.
Eu tenho muitas histórias. Talvez mais do que algumas pessoas porque tenho uma memória não-seletiva de mim mesma, tudo o que acontece fica escrito em mim com tinta permanente. E é para isso que a minha memória funciona, para as minhas histórias. Lembro-me bem da minha infância, do que não me lembro ter vivido, perguntei e pergunto a outros para que eu saiba por onde trilhei. Não sei quando comecei a ser assim ou quando tomei consciência disso. Quero minha história, meu passado.
Há lembranças inventadas. Alguém disse que realidade é a forma se vê alguma coisa. Então eu lembro de um acontecido do meu jeito, com meu tempero. E saio contando por aí. Pode ser que outros lembrem diferente. Eu lembro exatamente como conto, ou conto exatamente como vai se encaixar em um momento.
Mentiras? As histórias são minhas, faço o que quiser com elas. Posso inventar meu passado? Não sei, geralmente penso contar o que realmente vivi, com as impressões guardadas em mim. Um professor meu dizia que a mentira é bem mais divertida. Um dia, ele contava um caso que havia se passado com ele e outro cara quando, interrompendo sua fala, o dito cara chegou e disse que aquilo era mentira, que, na verdade, o caso era assim e assado. A frustração nos ouvintes foi certa. Eu penso que cada um contou sua versão, como sentiu, como quis que fosse. Nenhum mentiu.
Exageros? Quantas vezes sim. A estudiosa das minhas contações, Licia Olivieri, definiu assim: zoom pessoal. Quando conto, ponho as lentes próprias, aproximo mais do detalhe que quero, que se relaciona com o ensejo. A tristeza sem causa pode se tornar uma depressão familiar, se o que eu preciso enfatizar é isso. E isso todos fazem ao contar, mas preferem dizer que são imparciais, exatos. Eu exagero mesmo, assumidamente. E fica cômico. E eu gosto. E quem ouve também.

Por que eu gosto de contar histórias – principalmente as que vivi? Por que, tantas vezes, exponho minhas fraquezas e vergonhas, contando? Além de viver uma situação frustrante, ainda tenho que compartilhá-la com outros, fazendo-a engraçada, dramática, sendo enfática. Sou assim. Talvez a teórica já mencionada, Olivieri, encontre uma resposta. Ou mesmo outros que insistem em me analisar. Quero saber o porquê.

quinta-feira, abril 20, 2006

Impossível!!!

Disseram-me hoje, assim, ao ver-me triste:
“Parece Sexta-Feira da Paixão.
Sempre a cismar, cismar, d’olhos no chão,
Sempre a pensar na dor que não existe...

O que é que tem?! Tão nova e sempre triste!
Faça por ‘star contente! Pois então?!...”
Quando se sofre o que se diz é vão...
Meu coração, tudo, calado ouviste...

Os meus males ninguém mos adivinha...
A minha dor não fala, anda sozinha...
Disseste ela o que sente! Ai quem me dera!...

Os males d’Anto toda gente os sabe!
Os meus...ninguém...A minha dor não cabe
Nos cem milhões de versos que eu fizera!...
(Impossível, de Florbela Espanca)

O que eu poderia dizer desse poema? Lá estava eu, ontem, pensando nos meus dilemas, quando resolvi pegar o livro A Mensageira das Violetas, da Florbela. Abri aleatoriamente e caiu em Impossível. Simplesmente me senti traduzida.
E a poesia não me toca tanto assim, não é sempre que estou tão ligada aos versos. Mas eles têm me chamado, e me mantido por perto.
Faço-me a mesma pergunta que Kawachi e tantos outros, por certo, será que só escrevo quando algo me aflige? Não entrando no mérito da questão do quê escrevo ou a qualidade disso.

quarta-feira, abril 19, 2006

O dia de hoje

Hoje me disseram que eu já não sou mais quem já fui, porque não confio mais no meu taco, não sou mais a menina otimista de outrora. Por quê?

Não sou mais menina mesmo, cresci! E mais, não estou mais na estufa de carinho e proteção dos meus pais: moro numa república a mais de 3 mil kilometros de casa e tenho que resolver os problemas que me aparecem!

Estou na faculdade, será que conta? Na verdade, numa puta de uma universidade que me fez sair da minha cidade, casa, igreja, de perto da minha família pra poder viver tudo isso com intensidade. É claro que quando eu saí de casa não pensava exatamente assim: eu queria estudar numa universidade pública do estado de São Paulo porque era meu sonho de infância. Acho que começou porque eu gostava das viagens que fazia para cá quando era criança.

Não estou mais em casa. Não tenho meus pais para resolver ou compartilhar meus problemas.
Não tenho mais a igreja que tinha.
Não tenho dinheiro, não tenho emprego - apesar de tentar tê-lo - e isso me deprime às vezes.
Não vejo mais o mundo com as lentes da Teologia da Prosperidade ou da Libertação, tampouco do Neoliberalismo evangélico.
Não convivo com pessoas perfeitas ou aperfeiçoadas, ainda bem que as pessoas com quem tenho convivido se assumem mais - pelo menos se comparadas às que eu convivia antes.

Realmente, esse é um pouco do que já mudou na minha vida. Será que ainda daria para eu ser animadíssima sempre como eu era, otimista com relação ao mundo e ao que eu poderia realizar nele? Será que eu tenho como acreditar ainda que, eu vou "vencer" porque eu luto e sou especial para Deus?
Eu, centro de tudo? Eu, eu , eu?

Estou séria, não sem rir. Mas eu rio de mim. Satirizo-me nós todos.

Não sou pessimista. De forma alguma! Eu ainda mantenho um idealismo de mudar tudo com que me envolver para melhor - pretenciosa, eu!? Que seja uma pequena mudança. Para mim, uma pessoa é um mundo. Ajudei uma, ajudei o mundo. Aprendi com uma, aprendi com o mundo.

Agora não me diga que "é só fazer sua parte que tudo dá certo". Não dá.

terça-feira, abril 18, 2006

Mais um poema

Sinceramente, meu forte não são os poemas. Tampouco escrever. Minha arte é (con)viver. Mas, ainda assim, insisto em escrever de vez em quando. Não sou poeta ou artista, sou uma simples garota brincando com as palavras.

Ontem me deu vontade de escrever e eu obedeci. Aí está o resultado.


Ei, mocinha
Ele só toca esse samba
Pra ver quem canta
Mas já não distingue
voz
timbre
ritmo
harmonia
compasso
ou a sua melodia.

terça-feira, março 14, 2006

Início

Nossa História em Verso ou Encontros e Desencontros


Você me acha
Espanta
Pega
E fala
Aí Leva
Esqueço...

Você me Balança
Mexe
Confunde
Espalha
Junta
Ajuda
Ensina
Prega
Passa
Impede
Entende
Desmente
Pisa
Arranca
Espirra
Puxa
E traz
Fica

Amassa
Namora
Dispõe
Desfaz
E faz e refaz

Enquanto eu
Fe(menina) de vez

Te Olho
E temo...
Aí te ignoro.
Espero
Deixo
Penso
Vejo
Chamo
Grito!
Vou
Encontro
Falo
Calo
Paro
Ouço
Sinto
Escolho
Decido

Te Desejo (suspiros)

Permito
Avanço
Deliro
Atravanco
Tremo
Choro
Caio
Ralo
Curo
Sento
Ando
Me perco...
Te acho

Duvido
Insisto
Acredito

Oro

Amo

(Não tem ponto, não tem fim)

Passo