quarta-feira, agosto 30, 2006

Infalável, mas poetado


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Já preciso do lápis para respirar!

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Perco-me por aí
Rio

Mas qual é a graça?
Cadê a graça?
Que graça é essa, meu Deus!

Perdão, eu
Não sei
Simplesmente sinto, às vezes
Muito

Desejo
Duvido
Questiono

Amo.

(E...o quanto sou festa! - que graça é essa?)

sábado, agosto 19, 2006

VIAGENS NA MINHA TERRA III

O primeiro dia

Cheguei em casa. Dormi. Quatro horas da manhã. Oito horas da manhã meu sono é carinhosamente interrompido:

- Dani...filhinha! Dani...vamos tomar café? O papai comprou um monte de coisa gostosa na feira.
As velhas estratégias para me tirar da cama. “Vem comer que está na mesa”. Mamãe sabe que a isso eu não resisto mesmo. Mas fazia apenas quatro horas que eu dormia depois de uma viagem cansativa. Pra que me acordar às oito da manhã? Eu estava de férias! Só abri um olho e resmunguei:

- Mas, mãe...eu tô morta... Tô tão cansada que não tenho forças nem pra mastigar...
- Vamos, filha. Ânimo. Tem palestra pros adolescentes.
Arregalei os olhos de uma vez. Que susto! Por um instante pensei que tinha voltado no tempo, como nos filmes.

- Quê?!
- Papai quer que vocês vão – no caso era eu e meus irmãos, com as idades de 16 e 18.
- Mãe! Tá me chamando às oito pra assistir palestra no primeiro dia das minhas férias? Palestra pra adolescentes! Quantos anos eu tenho?

Daquele ângulo, eu deitada no colchão no chão e minha mãe se abaixando pra me convencer a despertar para minha adolescência adormecida, eu achei a cena engraçada. Digna de ser descrita. E lida. Você faz bem leitor. Faz um bem a mim. Eu realmente precisava desabafar.
Quando eu sai de casa para estudar, eu tinha 17 anos. Da ultima vez que eu fui pra casa completei 19. Mas já fazia um ano e meio. Estou com 20. Meus pais estão com meus 17. Eles ainda não se deram conta dos meus aniversários anuais. Será?
Eu fui à palestra. Meu irmão também. O caçula foi mais esperto: foi para o treino de basquete – e acrescentou um côvado à sua vida.
Eu já assisti muitas palestras. Boas e ruins. A igreja que eu freqüentava era muito preocupada com o ensino. E nas várias escolas que estudei também ouvi muitas palestras. E na faculdade também – aliás, por ser a comemoração dos 10 anos do curso de Letras eu confesso que esperava algo de nível superior, e não aquela puxação de saco acadêmica de 40 minutos antecedendo uma golfada de termos sem sentido. E como conseguir descrever a pior palestra que eu já vi em toda a minha vida?
Apalpo as palavras errantemente como quando acaba a luz e procuramos um objeto no escuro, tropeçando no pé do armário e machucando o mindinho ou a unha encravada. As únicas palavras que encontro são essas, do tipo pé-de-mesa-que-machuca, apenas elas para dizerem o mal que aquela palestra me causou.
De início, confesso que ainda imaginei não estar gostando da palestra por causa do tema, afinal, eu não preciso mais aprender sobre a menarca! Era bondade minha, um restinho, como quando fazemos brigadeiro e fica uma rapinha na panela.
Depois de meia hora, a náusea crescente me fez perceber que o problema não era o tema.

No meio do caminho havia um palestrante
Um palestrante havia no meio do caminho
No meio do caminho...um palestrante
Um palestrante

No meio do caminho havia um palestrante.


O portão de onde acontecia a palestra estava trancado e algumas pessoas “responsáveis” vigiando para nenhum adolescente fugir. Realmente, com uma palestra daquela dava vontade de fugir mesmo. Da Terra. Sinceramente, uma programação feita especialmente para adolescentes tão caprichosamente que precisa de cadeados para mantê-los “participando”. Depois há quem não entenda o porquê de tanta alienação, por que motivo tantas pessoas mudam de uma igreja para outra – e até mesmo de religião – se foram tão bem ensinadas. Ensinadas a quê? A seguir, a imitar, a obedecer. E não a pensar em suas reais motivações para fazer isto ou aquilo.

Irritação nada literária.

Enfim, assisti a palestra. Odiei. Mas ri muito. E depois, também, meu pai assistiu uma parte da palestra. Acho que ele percebeu que, pelo menos, de puberdade eu já entendo um pouco. Ufa!

Os primeiros dias das férias foram mais intensos. Esta foi a manhã do primeiro dia: intensidade pura!

(Quase vejo um anônimo rindo.)

quinta-feira, agosto 03, 2006

VIAGENS NA MINHA TERRA II

Fiz uma viagem. Quero falar dela. Não sei para quantos posts terei paciência de fazer sobre o mesmo assunto, que é vários ao mesmo tempo. Vou começar do começo, mas posso não terminar no final. Mesmo porque ainda não acabou.

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A Ida

Viajei. Foi uma viagem curta. Não foi uma viagem cara. Não vi nenhuma pessoa famosa. Não visitei nenhum museu importante. Mas foi a viagem mais importante pra mim esse ano – até agora, pelo menos, vou lá saber se vou viajar mais e mais importante até dezembro? E preciso falar sobre isso. Escrever também, porque falar eu falo mais do que dois ouvidos podem suportar – e é por isso que preciso de tantos!
Quando eu fiquei sabendo que iria para casa, vibrei. Depois de um ano e meio sem ver meus pais, sem estar no doce meu lar, a notícia foi motivo para grandes comemorações. No fundo, eu sabia que iria. Na verdade, não tive uma notícia. Eu é que disse que iria de qualquer maneira, com emprego ou sem, com aulas ou não, por um fim de semana que fosse. E fui.
A passagem não existe mais. O papel, que me dava tanta segurança segurar até chegar ao aeroporto e depois entregar para o moço do avião. “Quanta simplicidade”, provavelmente pense alguém viajado ou que se ache tão diferente de mim. Alguém como quem me escreveu uma carta, da qual reproduzo um trecho:
(...)peço a Deus que te proteja, porque você é muito inocente. E, simultaneamente, peço que ele aumente essa inocência no mundo.
Hoje eu me pergunto que inocência é essa. Seria isso que me faz ter um certo medo de multidões sem nome e querer ter por perto alguém do meu convívio? É essa inocência que me faz ter a coragem de escrever isso e me expor a “anônimos”? Foi a ingenuidade sobre o que eu encontraria que me deu a disposição de deixar meu ninho para viver um sonho tão incerto? Por esse sonho, também, fiquei um ano e meio sem estar em casa.
Quando eu cheguei no aeroporto, peguei a fila para o check in com aquela cara de perdida. E não era a minha primeira viagem! Eu estava sozinha, e estar só é o que tanto me incomoda quando estou em lugares como aeroportos, rodoviárias, shopping centers, cinemas, metrôs e afins. Principalmente se o que vou fazer é algo tão importante e marcante como viajar. Mas haja companhia pra tudo isso!
Tudo deu certo, só com o meu nome eu viajei. Nem usei o código que meu pai me passou pelo telefone e eu anotei com muita concentração na minha agenda cor-de-rosa. Quanta praticidade pra viajar! E segui um raciocínio daqueles bem vovozinha impressionada com o mundo de hoje. E assim eu pensei até o momento em que eu deveria entrar no avião, mas não entrei, apenas ouvi:

- Senhores passageiros do vôo 1821 com destino a Brasília e conexões, devido aos problemas de localização, o vôo foi adiado para as 20 horas.

Como eu estava sozinha, apenas me remexi na cadeira em que estava sentada, não pude verbalizar meus sentimentos nada gentis. Olhei meu bilhete, eu estava com ele nas mãos, pronta para partir. Eu sairia às 18h50min, por isso eu havia chegado às 17h40min, aproximadamente. No avião eu durmo, pelo menos. Mas, no aeroporto, sozinha...fazer o quê? Ler? Eu estava lendo “O Vermelho e o Negro” de Stendhal. No entanto, só queria viajar, chegar logo. Depois do aviso sobre o atraso, mesmo a leitura até então encantadora se tornou canseira e enfado. Irritação...
Cansei de ouvir avisos de aviões chegando e saindo. Cansei de ouvir as traduções. Que inglês é aquele que se fala nos aeroportos? Francamente, será que um nativo da língua inglesa tem a capacidade pra entender aquele inglês? Pobres estrangeiros que dependerem daquilo para entender qual é o seu vôo! Confesso que até senti um certo orgulho do meu inglês depois de ouvir tantas “mastigações”. E o inglês mastigado é padrão, tanto no aeroporto de Congonhas, em São Paulo, como no aeroporto de Brasília e dentro dos aviões é aquilo que você escuta.
Para ajudar o tempo e a irritação passarem, resolvi fazer meu ritual sagrado: comer. Eu não estava com fome, e não podia comer muito também porque eu fico com enjôo só de pisar dentro do avião. E é claro que não estava a fim de fazer uso dos saquinhos para vômito – que antes ficavam atrás de cada poltrona, mas, com a crise das empresas aéreas, eu teria que pedir de algum comissário ou comissária.
Sai da cadeira em que eu estava sentada e segui para um balcão e pedi...Pouco importa o que eu comi! Mais relevante é o fato de que, depois que eu terminei de comer, procurei a passagem nos bolsos da calça, é obvio que eu tinha colocado ali, era o lugar mais prático. Nada. Olhei nos bolsos externos da mochila. Nada. Mas que droga! Onde eu enfiei essa passagem? Abri a carteira, ufa! Não! Era a passagem referente a Brasília – Porto Velho. Onde eu teria colocado?
Voltei à cadeira em que havia me sentado. Uma senhora do lado esquerdo estava lendo, a mesma desde o momento que eu tinha saído. Do outro lado, uma senhora não tão senhora assim estava com a filha. A minha cadeira vazia. Olhei no chão.

- Vocês, por acaso, viram uma passagem por aí?

As duas se entreolharam, olharam nas cadeiras ao lado, se abaixaram pra procurar no chão também e eu com aquela cara de desespero total. Nada de achar a bendita passagem.

- Brigada. Vou procurar nas minhas coisas de novo.
- Se já é esquecida desse jeito, imagine quando estiver da minha idade! – disse a senhora mais velha para a senhora mais nova e com cara de mais chata.

Sentei, respirei – porque já fazia uns 7 minutos que eu não inspirava ou expirava, eu só procurava – e vasculhei toda a sacola que eu carregava. Conferi novamente os bolsos externos da mochila, os bolsos da calça, quase virei minha carteira do avesso, olhei dentro do livro...dentro! Dentro da mochila! Não dava pra tirar tudo de dentro da mochila porque lá dentro estava simplesmente uma bagunça e porque não se abre mochila no meio da sala de embarque. No meio das bagunças, na parte interior-superior da mochila, lá estava ela! A minha passagem toda amassada.
Será que eu apaguei por alguns segundos e a coloquei lá dentro ou será que eu apaguei depois, tendo um esquecimento completo de onde tinha colocado a bendita? Não sei. Essa é uma incógnita que me rendeu um pavorzinho de viagem. E que pavor. Odeio esquecimentos, mas sempre os tenho. Se resolvesse contar episódios de esquecimento teria história para caminhar e contar por um tempo que só com um bom condicionamento físico daria para agüentar!
Quando cheguei em Brasília, tive que matar o tempo mais um tanto (e que tanto!) e esperar o avião para Porto Velho, que, por sua vez, também atrasou. Comi. Andei pelas lojas. Li vários capítulos do romance que carregava. No meio da leitura, uma vontade enorme de beber suco de laranja. Geralmente desejo coisas de comer, e não de beber. Tomei o tal suco de laranja com uma gana, parecia que eu nunca tinha experimentado!
Enfim, o avião. Quando entrei, fiquei espantada. O moço do check in fez questão de perguntar se eu queria janela ou corredor, e, quando eu entrei no avião a minha poltrona era uma bem do meio, onde fica a asa, por fora e, por dentro, não tinha janelas! Na verdade era uma parede lisa, super encantadora para quem tem um certo grau de claustrofobia. Não, não bastava estar dentro de um avião atrasado, sentindo enjôos... eu tinha que me sentar logo do lado de uma parede! Mas eu dormi. Senti câimbras, dor no pescoço, virei várias vezes: características do sono de avião. Pelo menos era uma velhinha do meu lado, e não um senhor com olhos grandes, como na minha ultima ida a Porto Velho de avião, há dois anos. O cara não parava de me olhar, e eu não conseguia pegar no sono de preocupação. Até que cochilei e, quando acordei, vi meu vestido aberto. Era um vestido com botões na frente, de cima a baixo. Onde o botão abriu: na altura do pescoço, no peito, na barriga, no meio das pernas ou no joelho? No meio das minhas pernas! Quando acordei, lá estava o vestido escancarado! Agora deu até vontade de abraçar aquela velhinha. E de queimar aquele vestido...
Cheguei em Porto Velho. Desci do avião quase pulando, correndo. Como uma criança ao sair da escola para dar um abraço no pai que a espera no portão. Ao chegar onde os passageiros retiram a bagagem, olhei adiante, na grande porta de vidro onde os amigos e familiares esperam dando os tchauzinhos mais piegas afinal, há quanto tempo não via um aceno daqueles, o rostinho dos meus pais emocionados e orgulhosos da filha? Não vi minha mãe. Não vi a carequinha inigualável do meu pai. Não vi sequer meu irmão, cabeçudo.

- Será que eu vou ter que ligar em casa pra pedir que alguém me busque? Será que eu vou de táxi? – Falei pra mim mesma.

Quando sai com as malas, meus pais estavam lá. E meu irmão cabeçudo também. E meu primo chicletinho também. Esqueci dos esquecimentos, dos atrasos, dos enjôos, da crise de claustrofobia, do inglês de açougue...só lembrei que aquele era um momento muito importante: o início das minhas férias, com núcleo-família incluso. E otras cositas mas!